TENDÊNCIAS - Convergência digital... no celular

Por Silvio Meira - Fonte G1

Ao invés de PCs ou laptops, o mundo digital converge mesmo é nos celulares. É só ter banda e preços razoáveis. Afinal de contas, somos, o tempo todo, móveis...

No Japão, desde 2005, o acesso a web via celulares é maior do que através de PCs. Na Inglaterra, é 19% dos PCs e, nos EUA, 17%. No Japão, em 2005, mais de 80% do e-commerce feito por pessoas entre 15 e 19 anos de idade já era através de celulares. Na Inglaterra, 67% dos usuários da web móvel têm menos de 35 anos de idade e, nos EUA, eles são 46%. No Japão, a terceira geração de celulares (3G), capaz de suportar muito mais usuários e usos, e velocidades na casa de megabytes por segundo, começou a ser introduzida em 2001 e, em 2005, mais de 40% dos usuários móveis só usava 3G. Daí vem, certamente, a quantidade de usuários móveis que estava na internet já na época. Vai haver quem diga que são as crianças usando a rede para navegar, pegar músicas e jogar. Também. Só que as crianças de hoje serão os adultos e executivos de amanhã. E os hábitos, quando se formam, são muito difíceis de mudar.

A galera de mais idade, como eu (que sou dos anos 50 do século passado) e alguns dos leitores, está acostumada a descartar novidades como algo que “as crianças” estão usando ou fazendo, por falta de ter com o que se preocupar -- mas, “no futuro”, quando tiverem que trabalhar e pagar suas próprias contas, elas irão entrar “na linha”. Tal contexto foi o mesmo, no passado, para os pioneiros da indústria do automóvel. Enquanto seus pais andavam em confortáveis carruagens ornamentadas e puxadas a cavalo, os garotos construíam aquelas máquinas sujas, barulhentas e desconfortáveis, que nunca seriam, em sã consciência, usadas por um ser humano. Deu, como sabemos, no que deu. Até mesmo em Taperoá não há mais cavalos: tange-se gado, na caatinga, de moto...

O Japão tem sido, há pelo menos dez anos, o principal motor de inovação do mercado de comunicação móvel. Quem lidera o processo, lá, é uma estatal, a NTT (sim, estatais podem ser líderes e inovadoras!). E o que tem feito o país andar na frente é uma combinação de serviços e sua qualidade, montada sobre uma cadeia de valor que remunera decentemente os parceiros das teles, coisa que nunca aconteceu no Brasil e na América Latina. Claro, há poder aquisitivo e sua distribuição na sociedade, mas isso também existe nos EUA, que estão muitos anos atrás do Japão (e da Coréia)...

Em muitos aspectos, nós imitamos os Estados Unidos, começando por não termos entendido, como a Europa o fez bem cedo, o poder dos padrões como plataforma de desenvolvimento, uso e, conseqüentemente, negócios. Deixamos, num mercado secundário, as forças naturais definirem qual padrão sobreviveria. O resultado foi uma disputa inócua, e local, pois o jogo estava decidido nos mercados de muito grande porte, que realmente importam, como Europa e Ásia.

Ali na esquina, agora, está a terceira geração de mobilidade (3G), como aquela que os adolescentes japoneses (todos) usam para estar on-line o tempo todo. De forma muito mais barata, prática e rápida do que os “velhos” PCs e laptops. Desta vez, como o Brasil inteiro convergiu para GSM, parece que só há uma escolha natural, WCDMA (pense 100Kbps a 1Mbps), que está se tornando um padrão mundial. Suas evoluções prevêem de 1 a 10Mbps (HSPA) e mais de 10Mbps (LTE). Para nós só há, na prática, um caminho. Que não vai estar aí por muito tempo, diga-se de passagem. A indústria já conversa sobre a próxima rodada da infra-estrutura de acesso móvel para 2015. Ou seja, temos oito anos, se começarmos já. Parece muito, mas é muito pouco: os investimentos são altos e quem põe dinheiro e trabalho espera retorno. E não só uso.

Nos últimos anos, gastamos uma energia considerável para dar os primeiros passos do sistema brasileiro de TV digital e talvez tenhamos deixado meio de lado a evolução da telefonia móvel. Talvez. Isso porque não é certo, de forma alguma, que o mercado esteja pronto para 3G. Ou que as operadoras queiram e possam, agora, fazer os investimentos necessários para migrar suas plataformas para o novo padrão. Mas algo terá que ser feito em muito breve, nem que seja avisar a todos, consumidores inclusive, que o país irá direto de 2G (e suas adições, como GPRS e EDGE, para dados) para 4G, que virá a ser uma rede móvel totalmente IP, onde o que hoje atende pelo nome de telefone será, simplesmente, uma aplicação sobre um conjunto de infra-estrutura e serviços. Mas podemos esperar oito anos ou mais? Em tempos de vida digital, parece um milênio...

Não acho que podemos esperar muito mais tempo pela introdução de uma nova geração de tecnologias de mobilidade no país. E não seria por moda, mas por necessidade. Os primeiros negócios de 3G, principalmente na Europa, fracassaram por uma razão simples: os governos venderam as licenças para a operação por preços astronômicos, por que as empresas esperavam, por sua vez, retornos magníficos do investimento. Só que pagaram tanto pela licença (umas) que ficaram sem caixa para montar a rede e o negócio propriamente dito. Outras descobriram que não valia a pena montar a rede porque, onde compraram uma licença, não havia mercado. Isso foi há alguns anos e nós todos aprendemos muito com os erros dos outros. Pelo menos é o que se espera.

Se houvesse um leilão de licenças 3G no Brasil, hoje, nem de longe os preços pareceriam com os praticados na Europa, mesmo com os 100 milhões de consumidores em potencial que há por aqui. Nem proporcionalmente, usando o retorno médio por usuário, haveria comparação. Porque parece que todos já entenderam que a dinâmica do mercado, na prática, é muito diferente do que os teóricos anunciam... Ainda mais, mobilidade em banda larga pode começar a ser um item essencial na balança da competitividade para os negócios e pessoas, assunto no qual o Brasil anda muito mal. Nossa infra-estrutura não é das melhores do mundo, apesar de haver melhorado muito, e talvez seja preciso um PAC para telecomunicações.

E seria simples, porque todo o investimento seria privado. O governo ainda poderia levar algum nas licenças, se não estendesse as atuais para a nova geração de tecnologia, o que pode muito bem ser o caso. Em troca, poderia exigir metas de universalização bem mais radicais do que no passado, fazendo uso do FUST para as compensações necessárias, e a definição de cadeias de valor onde uma ecologia inteira de novos negócios de mobilidade pudesse coexistir em harmonia com as operadoras, o que nunca foi o caso no Brasil. Vai ser feito? Não sei. Precisa ser feito? Sim, e rápido. Senão será mais um bonde perdido e a convergência, no celular, vai acontecer em outras paradas...

Comentários

Fer disse…
Olá,
Foi lançado recentemente um PABX capaz de integrar-se ao SKYPE, permitindo que telefones comuns possam fazer chamadas para contatos SKYPE ou para outros telefones através da rede SKYPE. As chamadas podem ser realizadas, atendidas, colocadas em espera, transferidas de forma extamente igual as da rede de telefonia convencional. O custo é muito baixo e se paga rápido, rápido.
Veja: www.safesoft.com.br/pabx

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