MERCADO - PC 'magro' conquista mais espaço no país

André Borges e João Luiz Rosa - 29/05/2007
Fonte: Valor On line


De um ano para cá, os tradicionais computadores de mesa que costumavam equipar as baias de atendimento começaram a desaparecer da Atento, uma das maiores companhias de call center do país. O mesmo fenômeno passou a tomar conta dos parques de informática de empresas muito diferentes entre si, incluindo a rede de lojas Fnac, a Xerox e o grupo Infoglobo, que controla os jornais "O Globo", "Expresso", "Extra" e "Diário de São Paulo", entre outras publicações.


Por trás desse sumiço está a aposta crescente das companhias nos chamados terminais thin client. Em uma tradução livre, seria o computador magro. Trata-se de um equipamento que não tem disco rígido, a unidade em que os usuários podem armazenar arquivos e programas na própria máquina. O processamento é feito integralmente por um servidor central, uma característica que já valeu a esses aparelhos a alcunha de terminal burro.


A despeito do nome, porém, essa categoria de produtos tem conquistado novos adeptos. "Até o fim do ano teremos mil terminais instalados", diz José Carlos Rocha, superintendente de arquitetura e planejamento de tecnologia da Atento. "No ano que vem serão outros mil equipamentos."


A substituição dos PCs pelos terminais magros tem sido motivada por facilidades como o controle centralizado das máquinas, o aumento da segurança dos dados e a redução de custos. O aparelho tem sido considerado até ecologicamente correto. "Pense em energia. Enquanto um PC gasta cerca de 230 watts por hora, um terminal desses consome só 9 watts", diz Fábio Selingrin, gerente de TI da Fnac.


A economia para quem troca o PC pelo thin client não é imediata. Mesmo que os terminais sejam mais baratos que os micros tradicionais - o que nem sempre ocorre -, o investimento em servidores mais potentes e em software adicional, uma exigência nesse tipo de substituição, elimina a vantagem na fase inicial, de aquisição dos produtos. "Um servidor para 25 usuários, por exemplo, sai por cerca de R$ 15 mil. Se você colocar na ponta do lápis, ficam elas por elas", diz Carlos Manino, diretor de infra-estrutura da BCS Informática, especializada em projetos de tecnologia para escritórios de advocacia.


A economia, afirma Manino, é no chamado custo de propriedade - o quanto uma empresa gasta para manter seu parque de computadores funcionando. As vantagens, diz o especialista, estão no fato de que o equipamento não tem partes mecânicas, o que elimina a necessidade de substituir peças, e seu controle é centralizado, o que reduz o risco de vírus e hackers. Mas o pulo do gato é a redução das chamadas de suporte técnico. "Enquanto em uma rede de 25 PCs o custo médio mensal vai de R$ 200 a R$ 400 por usuário, no ambiente de terminais não passa de R$ 30 a R$ 40 por usuário/mês", diz Manino.


Esse cenário de empate na hora da aquisição e de ganho com manutenção é confirmado por consultores do mercado. "(Com a substituição) o usuário terá que gastar com servidores e rede", diz Ivair Rodrigues, diretor de pesquisas do instituto de pesquisa IT Data. "No médio ou longo prazo, porém, a economia do thin client acaba se confirmando, e pode chegar a até 40%."


A Fnac, com sete lojas no país, fez suas contas. Ao substituir o computador de mesa pelo thin client, vai gastar 15% menos em tecnologia. "No médio e longo prazos, essa economia será ainda maior", afirma Selingrin.


Razões similares levaram o grupo Infoglobo a injetar R$ 1,6 milhão na aquisição de 600 terminais. As máquinas, que terão seus sistemas e operações centralizadas nos 16 servidores da companhia, vêm sendo instaladas nas redações dos jornais "O Globo", "Expresso" e "Extra". Os computadores antigos serão doados.


"Enquanto a vida útil do PC é de três anos, a do thin client sobe para cinco anos", diz João Vicente Gonçalves, gerente-geral de tecnologia do grupo Infoglobo. "Quando uma atualização é necessária, você só mexe com o software e o servidor. A gestão é muito mais produtiva."


A Atento decidiu medir quanto tempo levava para consertar um PC inoperante. Eram, em média, duas horas de serviço, diz David Cardoso, vice-presidente de TI e infra-estrutura. "Com o thin client, o prazo caiu para oito segundos." Ao medir os resultados, a Atento verificou que os terminais tinham aumentado em 28% sua capacidade diária de atendimento. "No fim do dia, isso significa menos musiquinha no ouvido do cliente", diz Cardoso.


O entusiasmo de algumas empresas não significa que o thin client seja uma panacéia. Uma série de barreiras restringe sua adoção em massa e boa parte dessa dificuldade está atrelada à resistência dos próprios usuários. Como não permite armazenar fotos, acessar jogos ou fazer o download de músicas e filmes, o equipamento acaba por irritar muita gente (ver reportagem abaixo).


Outra limitação diz respeito ao caráter generalista do equipamento. Empresas com departamentos distintos - onde há um parque heterogêneo de sistemas - costumam ter dificuldades para gerenciar as operações. "O thin client não funciona para tudo. Há situações, por exemplo, em que é preciso ter processamento local", diz Gonçalves, do Infoglobo.


A diminuição drástica do preço dos computadores pessoais no Brasil - impulsionada pela desoneração fiscal, pelos programas governamentais e pela concessão de crédito ao consumidor - também reduz o poder de atração do thin client na fase de aquisição dos equipamentos, um ponto importante para companhias públicas.


A Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) percebeu isso no mês passado, quando fez um pregão para comprar cerca de 2 mil máquinas. Em sua ata de registro de preços, a empresa especificou seis configurações de computadores, das quais a mais básica poderia ser plenamente atendida por thin client.


O valor mais barato dos terminais, porém, não conseguiu sequer se aproximar do preço dos micros de mesa. "Sabemos que muitas vezes o thin client é uma opção mais interessante, mas a proposta mais em conta que recebemos foi de R$ 850 cada terminal", diz Marino Martin Mena, gerente de TI da Prodesp. "No caso dos PCs, a configuração foi atendida por uma máquina de R$ 550. Não tivemos outra opção senão comprar os computadores."


O fato de que a maioria dos terminais é importada - enquanto no mercado de PCs há várias empresas com produção local que contam com benefícios fiscais - é um fator que ajuda a explicar porque os preços dos equipamentos não é mais baixo. Nos EUA, diz José Alessandro Oshiro, gerente de produtos da Sun Microsystems, um dos terminais mais modernos da empresa, com consumo de 4 watts por hora, é encontrado a US$ 249,00. No Brasil, a mesma máquina sai por cerca de R$ 1 mil.

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