MERCADO - eBay quer estar em todos os lugares

Catherine Holahan 20/06/2007 Fonte: Valor on line

Quando Pierre M. Omidyar fundou o eBay, em 1995, a chave para o sucesso do comércio eletrônico era relativamente simples: estabelecer um site na internet onde os usuários da rede mundial de computadores pudessem passar algum tempo e comprar algumas coisas. Por esse parâmetro, o eBay.com tornou-se um dos sites mais bem-sucedidos da internet, com 233 milhões de usuários registrados à procura de participar de algum leilão ou em busca de pechinchas. O usuário médio do eBay passa perto de duas horas por mês no site - o que é mais de cinco vezes o tempo médio que as pessoas gastam no site da Amazon.

Hoje, porém, insistir que todo mundo visita seu site isoladamente parece uma coisa muito "anos 90". A ação está onde os usuários a criam - numa página do site de relacionamento MySpace, em um vídeo do YouTube, em seus próprios blogs. Portanto, onde isso deixa o eBay? Em todos os lugares, se o eBay acreditar nisso. A companhia está acelerando os esforços para romper seus próprios muros.

Isso explica, em grande parte, porque a companhia investiu mais de US$ 6 bilhões nos últimos cinco anos comprando ativos de tecnologia como o empresa de telefonia pela internet Skype, o serviço de pagamento on-line Paypal, a revendedora de ingressos StubHub, além de uma série de sites de todas as partes do mundo, incluindo uma participação de 25% na Craiglist e na Kurant, cujas tecnologias são usadas para estabelecer "vitrines" on-line separadas do eBay.

Como todos esses negócios aparentemente desconectados se encaixam pode não ser tão óbvio. Na verdade, as incertezas dos investidores e analistas sobre eles explicam porque a ação do eBay vem tendo um desempenho morno nos últimos 12 meses. Mas, no fundo, Margaret C. "Meg" Whitman, a executiva-chefe do eBay, está tomando emprestada uma idéia da Visa International: ela quer que o eBay esteja em todos os lugares que você quiser.
A nova arremetida começou a ficar mais clara no dia 11, quando o eBay iniciou, em Boston, três dias seguidos de conferências para profissionais que desenvolvem software, além de pessoas que compram e vendem por seu intermédio. Um ponto central é a oferta de novos serviços que permitirão às pessoas comprar itens do eBay fora de seu site central.

Um exemplo: o eBay vai lançar o San Dimas, um produto desenvolvido com tecnologia da Adobe Systems, que permitirá aos compradores e vendedores monitorarem seus leilões e realizar compras enquanto estiverem trabalhando em outro aplicativo no computador. As pessoas poderão ter um eBay plenamente funcional na mesma tela em que estiverem lidando com os números de uma planilha. "Isso coloca a presença do eBay diante dos usuários de uma maneira mais onipresente", afirma John Donahoe, presidente da divisão eBay Marketplaces e a pessoa encarregada de ampliar a marca globalmente.

É uma estratégia ambiciosa para uma companhia que passou a ser claramente identificada com seu principal site na internet e que conseguiu muitos seguidores leais entre seus clientes e comerciantes. Mas os executivos do eBay acreditam que o crescimento futuro depende de uma evolução que vá além de ser um site visitado pelas pessoas e tome a direção de se tornar um provedor de ferramentas e serviços que reforce o comércio eletrônico em toda a internet.

Whitman chama a estratégia de "o poder dos três", referindo-se aos leilões, ao serviço de pagamento e ao negócio de telefonia via internet do Skype. O PayPal, com receitas de US$ 439 milhões no trimestre passado, é líder no mercado de pagamentos on-line, ficando atrás apenas das companhias de cartões de crédito.

O eBay vê um futuro em que o PayPal será o sistema padrão de pagamentos para transações on-line em todas as partes do mundo. Cerca de 40% dos US$ 11,4 bilhões em pagamentos processados pelo PayPal já são de sites que não o eBay; essa parte do negócio cresceu 51% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Do mesmo modo, o Skype, que teve receitas trimestrais de US$ 79 milhões, é usado para conectar vendedores e compradores do eBay, embora seja mais um serviço global de telefonia pela internet.

Alguns analistas reclamam, no entanto, que não há sinergia suficiente nessas aquisições tecnológicas para justificar os bilhões gastos. Eles afirmam que grande parte do arroubo de compras da companhia de San Jose, na Califórnia, vem sendo um desvio do que está debilitando seus principais sites de compras. As vendas pela internet ainda responderam por quase 70% da receita de US$ 6 bilhões do eBay no ano passado. Mesmo assim o crescimento das receitas nesse ramo de negócio diminuiu, de um ritmo anual de 40% até 2004 para 23% no trimestre passado.
A companhia investiu mais de US$ 6 bilhões nos últimos cinco anos comprando ativos como o Skype
Como resultado, a ação do eBay desvalorizou 16% nos últimos dois anos, em comparação a uma valorização de 107% da ação da Amazon.com. "Eles continuam muito distraídos com coisas que não são essenciais, como o Skype", afirma Scot Wingo, diretor-presidente da Channel-Advisor Corp., uma empresa prestadora de serviços de softwares e outros para comerciantes eletrônicos.

É por isso que o mais novo esforço da companhia para criar vitrines fora do eBay.com é tão importante. Para cultivar novos clientes e gerar novas taxas de transações, a companhia sente que precisa facilitar as coisas para as pessoas que nunca compraram ou venderam nada pelo eBay, se sintam estimuladas a estabelecer pequenas versões de seu mecanismo de comércio eletrônico em seus próprios sites.

A tecnologia adquirida pelo eBay através da Kurant (que foi renomeada ProStores) está ajudando novos usuários a estabelecer lojas on-line. Tome, por exemplo, Devin Hibbard, que ajudou a fundar a BeadforLife.org, uma joalheria sem fins lucrativos que trabalha com mulheres das regiões mais pobres de Uganda, vendendo jóias que elas produzem. Ela descobriu a ProStore através de um programador que construiu seu site na internet. Hoje, as 250 mulheres que vendem através da vitrine on-line criada por Devin Hibbard com a ajuda da ProStore, conseguiram aumentar suas rendas de menos de US$ 1 por dia para mais de US$ 3.
O eBay cobra dessas vitrines uma assinatura mensal que vai de US$ 29,95 a US$ 249,95, dependendo do tamanho da loja e do volume de produtos vendidos. "É uma parceria improvável", diz Hibbard. "Mas eu acho que mais e mais organizações sem fins lucrativos do movimento 'fair trade' [comércio justo] estão atentas à maneira como consegue sua renda."
Em abril, o eBay começou a testar uma ferramenta chamada To Go, que permite aos compradores e vendedores de seus leilões embutir em um site o software conhecido como widget. Ele possibilita a todas as pessoas que estão nesse site ficarem de olho nos leilões do eBay que lhes interessam - e monitorar a progressão das ofertas -, sem que elas precisem mudar para o eBay.com. Pode não parecer grande coisa, mas pense bem quanto tempo as pessoas gastam hoje em dia em redes de socialização como o MySpace e o Facebook, onde elas podem ler os blogs de seus amigos, escrever suas próprias considerações e compartilhar fotografias, vídeos e outras imagem. Por quê não comprar lá também?
A Terapeak, uma empresa da internet que vende pesquisas de mercado, criou um site de loja do eBay dentro do Facebook no mês passado. Os membros do Facebook podem clicar no ícone "encontrar", que os permite buscar itens no eBay sem que para isso eles precisem sair do Facebook. Itens aparecem em uma janela especial eBay/Facebook, junto com preços de classificações da reputação do vendedor. "Eu acho que o eBay tem um grande site e muitas pessoas o usam, mas no fim das contas, você não pode ser tudo para todos", diz Anthony E. R. Sukow, diretor-presidente da Terapeak.
O eBay precisa ir além de seu próprio site não só porque é onde os compradores estão. É onde estão também os comerciantes. Alguns de seus vendedores mais bem-sucedidos estão passando a vender itens através de suas próprias vitrines, usando a plataforma de busca de anúncios do Google para direcionar o tráfego para esses sites. Eles não pararam de vender no site do eBay, mas começaram a dar ao site uma parcela menor de suas melhores mercadorias, preferindo lançar nele mais itens que eles desejam vender barato. "Na medida em que os vendedores amadurecem, o eBay deixa de ser seu canal de primeira instância para ser o canal de última instância", afirma Wingo.
Para evitar se tornar um porão de barganhas, o eBay precisa encorajar os vendedores a continuar listando seus produtos de ponta no site, ao mesmo tempo que atrai comerciantes mais jovens. Mercadorias melhores atraem mais compradores, que, por sua vez, atraem mais vendedores. O eBay também pode iniciar o ciclo atraindo mais compradores por meio de esforços como o eBay To Go e a integração Facebook. "Eles deveriam estar indo agressivamente atrás das pessoas que ainda não possuem negócios on-line", diz Tim Boyd, analista da American Technology Research.
Atrair compradores, assim como empresas, de fora da principal plataforma de compras do eBay será um desafio significativo. A competição na internet é acirrada e o eBay precisa enfrentar não só outras companhias de e-commerce em busca de compradores e vendedores, como também uma infinidade de sites de entretenimento e socialização. "O mundo off-eBay é muito mais competitivo", diz Derek Brown, analista da Cantor Fitzgerald. "O sucesso ali não é uma certeza."

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