Exército de artistas ocupa favelas do Alemão

MÁRIO BANDS E DAVID AMÉN SÃO ESTAGIÁRIOS DO NÚCLEO WEB DA FACHA E EM JULHO DE 2008 MÁRIO SE FORMA EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA E DAVID EM JORNALISMO.

NO MEIO DA VIOLÊNCIA TAMBÉM SE FAZ ARTE E UM GRUPO DE JOVENS DESENVOLVE UM PROJETO COM ÉTICA, PORTANTO ESSA MATÉRIA NÃO FALA SOBRE MÍDIAS DIGITAIS, MAS FALA DE ESTAGIÁRIOS DE NOSSA EQUIPE, QUE NAS CONDIÇÕES MAIS ADVERSAS ESTUDARAM E APRENDERAM A PRODUÇÃO PARA WEB, PARA RÁDIO, PARA JORNAL E TV. ENTÃO ABRIMOS ESPAÇO PARA UMA NOTÍCIA QUE ACIMA DE TUDO É UMA LIÇÃO DE CIDADANIA.
Suzana Pedrinho
Coordenadora do Núcleo Web
ABAIXO A MATÉRIA DO G1


22/02/2008 - 07h29 - Atualizado em 22/02/2008 - 12h36 - G1

Jovens promovem atividades culturais e educativas dentro da comunidade.A chegada do PAC renova a expectativa de melhorias nas favelas.


Sob a mira de fuzis, apontados por soldados da Força Nacional de Segurança, entrincheirados nos acessos das favelas, os moradores do conjunto do Alemão seguem cruzando as ruas indiferentes ao clima de guerra constante nas comunidades.

Nos últimos dias, o que mudou no cotidiano dessas pessoas é o cochicho nos becos e esquinas sobre o início do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal) e a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para lançamento das obras.

Embora a expectativa de conquistar uma vaga de trabalho seja positiva, percebe-se que a aparente indiferença é apenas uma arma de sobrevivência. Na verdade, ainda paira no ar o pesadelo de um possível confronto quando a polícia ocupar a região.

Preocupados com uma investida trágica - ao longo de quatro meses 70 pessoas morreram e cerca de cem ficaram feridas em operações policiais no local -, um "exército" está se preparando para conter as ações violentas que resultem em outras mortes de inocentes. Os recrutas dessa "tropa" são comandados pelo Grupo Cultural Raízes em Movimento que atua nas 12 comunidades com uma população de aproximadamente 150 mil pessoas, segundo as associações de moradores. A equipe, que trabalha com atividades culturais e educativas no Alemão desde 2001, quer garantir voz e espaço para continuar com o movimento que já beneficiou cerca de duas mil pessoas em seus seis anos de existência. Na pequena sede encravada dentro do Alemão, em Ramos, no subúrbio do Rio, crianças e adolescentes aprendem um ofício como pintura, tecelagem, artesanato, música, dança, teatro, fotografia, técnicas de grafites, produção de vídeos e elaboração de jornais comunitários. “Obras, por si só, não mudam as pessoas. O que pode mudar é o acesso à educação, à cultura, que são os verdadeiros ativos que ficam para as comunidades. A violência deixou as pessoas daqui sem perspectivas. Agora, estamos diante de uma chance histórica de mudar essa realidade, mas é preciso que os jovens, que são as maiores vítimas e promotores dessa violência, tenham chances de participar desse processo, de valorizar esse projeto como algo transformador. Estamos tentando colaborar, já que o nosso trabalho existe aqui dentro antes de surgir essas promessas do governo”, afirma o antropólogo Alan Brum Pinheiro, presidente do Raízes em Movimento.

Circulando
Para divulgar os trabalhos das equipes, eles criaram o Circulando, evento itinerante dentro das favelas com exposições de grafites, pinturas, fotografias e vídeos com documentários sobre o cotidiano da favela. Em junho do ano passado, a exposição na Avenida Central, via que corta o conjunto de favelas, e as oficinas nas lajes das casas foram canceladas por causa de uma incursão policial. Já são 53 painéis pintados nos muros e fachadas das casas.
“Queremos que as pessoas aprendam um ofício e sintam orgulho do que fazem. Só assim serão capazes de valorizar seus trabalhos lá fora e disputar um espaço no mercado”, completa Alan. Um bom exemplo é seu sobrinho, o fotógrafo Maycom Brum de Almeida, 20 anos, que registra com sua máquina o dia-a-dia da complexa comunidade. Ele cedeu algumas fotos que ilustram essa reportagem. David da Silva, 26, coordenador de comunicação do Raízes, e Mário, estudante de publicidade responsável pelo site
http://www.raizesemmovimento.org.br/, são outros jovens que se destacam como referência na comunidade. Os talentos da pintura são Tiago Tosh e Beto Era, que fizeram painéis gigantes nos muros e paredes da Avenida Central para denunciar o cotidiano de violência nas favelas e a violação dos direitos humanos em algumas ações arbitrárias da polícia. O próximo Circulando será no dia 29 de março.

Trabalhos fora da favela
Alguns trabalhos da equipe já ganharam destaque fora da favela, como a pintura temática no muro principal de um dos campus da Faculdades Integradas Hélio Alonso, a Facha, em Botafogo, na Zona Sul. A outra iniciativa do Raízes, em parceria com o Sesc, é o Motirô, com oficinas de comunicação e meio ambiente, além de promover atividades de esporte e lazer. Pelo menos 50 alunos do ensino médio matriculados em escolas públicas do Alemão e do conjunto de favelas da Penha são atendidos pelo projeto. Os integrantes desses movimentos estão otimistas com as mudanças propostas para o Alemão. Às vezes, acham que tudo não passa de uma grande utopia. Mas, no momento, estão dispostos a sonhar.

O Alemão
O conjunto de favelas do Alemão é formado por 12 favelas como o Morro Alemão, Grota, Nova Brasília, Alvorada, Alto Florestal, Itararé, Morro da Baiana, Morro do Mineiro, Morro da Esperança, Joaquim de Queiroz, Cruzeiro, Morro das Palmeiras. As comunidades estão localizadas na Serra da Misericórdia, parte central da região da Leopoldina, abrangendo uma área formada por cinco bairros: Inhaúma, Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha.

O que será feito pelo PAC
Segundo a Secretaria estadual de Obras, a comunidade vai ganhar obras de infra-estrutura, com abastecimento de água e redes de esgoto, escolas, postos de saúde e pavimentação, além de um teleférico e 2.620 unidades habitacionais e melhorias de outras 4 mil casas.

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