TENDÊNCIAS - Vídeos de usuários viram fonte de receita no celular
André Borges e Talita Moreira - 05/06/2007 Fonte: Valor Econômico
São três horas da tarde de uma quarta-feira e Guilherme Zaiden dorme bem sossegado. O recado insosso gravado na secretária eletrônica do celular vai direto ao assunto: "Eu tô dormindo, deixa o recado".
Nos últimos dias, o celular de Zaiden deixou de ser apenas um apetrecho barulhento, com o único propósito de atrapalhar a hora da sesta. De uma semana para cá, o jovem de 18 anos começou a ganhar dinheiro com o seu celular, mesmo enquanto ronca. É dele alguns dos vídeos mais vistos pelos usuários do Video Maker, um recurso de compartilhamento de vídeo que acaba de ser lançado pela operadora móvel Claro.
Em linhas gerais, o Video Maker pega carona na onda do site americano YouTube, o fenômeno dos vídeos caseiros - e profissionais - assistidos via internet. Mas as semelhanças ficam por aí. Duas características básicas distinguem o ensaio da Claro na arena da chamada web 2.0, termo usado para se referir às novas experiências de interatividade propostas pela rede digital. A primeira delas é a de permitir que os vídeos sejam assistidos e armazenados no telefone celular, e não apenas por meio do computador e dispositivos móveis mais sofisticados. A segunda diferença - e certamente a mais importante - é que o Video Maker propõe um modelo de negócios para a oferta de vídeos digitais: ele passa a remunerar os autores dos filmes.
No YouTube, jovens como Guilherme Zaiden já se tornaram verdadeiros fenômenos de audiência. Autor de sátiras como "Pastor Serafim" e "Confissões de um Emo", o garoto de Brasília já foi assistido mais de 5 milhões de vezes pela web. Surpreso com o resultado de suas "brincadeiras", ele tenta definir a fama instantânea: "É estranho. Hoje eu sou um anônimo famoso."
Até agora, porém, a fama no YouTube não fez pingar um centavo no bolso dos milhares de "Zaidens" que estão por aí. É neste ponto que a proposta do Video Maker faz diferença. Ao se cadastrar no site da Claro para enviar filmes, o produtor independente também informa seus dados bancários. Cada vez que um vídeo seu é baixado pelos usuários de celular, a operadora paga R$ 0,10 ao autor. O depósito é feito em pequenos lotes. Toda vez que o autor acumula 200 arquivos baixados, R$ 20 são depositados em sua conta. "Já tenho uns R$ 80 lá para receber", calcula Zaiden. "Não resolve a vida, mas já ajuda."
Experiências como a da Claro têm tudo para se espalhar entre as demais operadores de telefonia celular. Nos próximos meses, a Vivo também pretende lançar um serviço que permitirá aos assinantes divulgar seus próprios vídeos pelo celular. A idéia é que os "campeões de audiência" recebam uma premiação. O formato, diz Alexandre Fernandes, diretor de produtos e serviços da operadora, ainda será definido. A previsão é que o serviço esteja disponível no terceiro trimestre.
Cada qual à sua maneira, as operadoras estudam formas de transformar em negócios o interesse que seus clientes dedicam a serviços como o YouTube, a rede social MySpace e o site de compartilhamento de fotos Flickr. O objetivo claro é aumentar as receitas com o tráfego de dados - texto, imagens e vídeos -, reduzindo a dependência do lucro baseado nos tradicionais serviços de voz.
Por enquanto, tudo está na fase de teste. Cautelosa, a Claro não vai pagar sozinha a conta de sua primeira investida na oferta de vídeos via celular. Quem quiser assistir aos filmes disponíveis no Video Maker terá que baixá-los em seu telefone e pagará R$ 1,10 por arquivo. "Faremos uma experiência, com o objetivo de criar uma rede de colaboração no celular", diz Marco Quatorze, diretor de serviços de valor agregado e roaming da Claro. "Queremos saber se o YouTube faz sucesso porque é interessante ou porque não tem custo."
Atualmente a Claro conta com 25 milhões de usuários no Brasil, informa Quatorze. Dessa base, 40% teria o potencial para acessar o serviço de vídeo. Embora pareça irrisório pagar R$ 0,10 ao autor para cada filme baixado, o executivo faz as contas para lembrar do efeito multiplicador do meio digital. "Vídeos com boa audiência no YouTube são assistidos cerca de 1 milhão de vezes", diz Quatorze. "No Video Maker, isso significaria R$ 100 mil."
A idéia de gerar audiência com conteúdo criado pelo próprio usuário não é um fenômeno recente na internet. Há alguns anos portais de notícias em todo o mundo abriram espaço para a colaboração de seus leitores. No Brasil, sites como o iG e o G1, por exemplo, oferecem canais com conteúdo produzido exclusivamente por internautas. A grande maioria dessas iniciativas, porém, não prevê qualquer tipo de pagamento ao colaborador. Fora do Brasil, já há propostas que desafiam esse modelo. Um exemplo é o sul-coreano "Oh My News", um dos jornais on-line mais reconhecidos do chamado "jornalismo cidadão". Ali, o colaborador cadastrado recebe US$ 1 por notícia enviada.
Para as operadoras de telefonia que atuam no Brasil, a experiência de oferecer vídeos criados por usuários tem um caráter estratégico. As iniciativas indicam que, apesar da falta entendimento entre as agências que controlam a radiodifusão e as telecomunicações sobre a transmissão de vídeo por outros meios que não a TV, milhares de filmes caseiros - produzidos a custo zero e isentos de cobrança de direito autoral - já estão se espalhando pelo celular. A Claro, que no último mês colocou uma versão beta do Video Maker no ar, já recebeu 2 mil filmes. O mais visto é o "Kaisha com K", de Zaiden, que usou seu próprio celular para fazer o vídeo. "As coisas estão melhorando", diz ele. "Acabei de ganhar uma filmadora da minha tia."
São três horas da tarde de uma quarta-feira e Guilherme Zaiden dorme bem sossegado. O recado insosso gravado na secretária eletrônica do celular vai direto ao assunto: "Eu tô dormindo, deixa o recado".
Nos últimos dias, o celular de Zaiden deixou de ser apenas um apetrecho barulhento, com o único propósito de atrapalhar a hora da sesta. De uma semana para cá, o jovem de 18 anos começou a ganhar dinheiro com o seu celular, mesmo enquanto ronca. É dele alguns dos vídeos mais vistos pelos usuários do Video Maker, um recurso de compartilhamento de vídeo que acaba de ser lançado pela operadora móvel Claro.
Em linhas gerais, o Video Maker pega carona na onda do site americano YouTube, o fenômeno dos vídeos caseiros - e profissionais - assistidos via internet. Mas as semelhanças ficam por aí. Duas características básicas distinguem o ensaio da Claro na arena da chamada web 2.0, termo usado para se referir às novas experiências de interatividade propostas pela rede digital. A primeira delas é a de permitir que os vídeos sejam assistidos e armazenados no telefone celular, e não apenas por meio do computador e dispositivos móveis mais sofisticados. A segunda diferença - e certamente a mais importante - é que o Video Maker propõe um modelo de negócios para a oferta de vídeos digitais: ele passa a remunerar os autores dos filmes.
No YouTube, jovens como Guilherme Zaiden já se tornaram verdadeiros fenômenos de audiência. Autor de sátiras como "Pastor Serafim" e "Confissões de um Emo", o garoto de Brasília já foi assistido mais de 5 milhões de vezes pela web. Surpreso com o resultado de suas "brincadeiras", ele tenta definir a fama instantânea: "É estranho. Hoje eu sou um anônimo famoso."
Até agora, porém, a fama no YouTube não fez pingar um centavo no bolso dos milhares de "Zaidens" que estão por aí. É neste ponto que a proposta do Video Maker faz diferença. Ao se cadastrar no site da Claro para enviar filmes, o produtor independente também informa seus dados bancários. Cada vez que um vídeo seu é baixado pelos usuários de celular, a operadora paga R$ 0,10 ao autor. O depósito é feito em pequenos lotes. Toda vez que o autor acumula 200 arquivos baixados, R$ 20 são depositados em sua conta. "Já tenho uns R$ 80 lá para receber", calcula Zaiden. "Não resolve a vida, mas já ajuda."
Experiências como a da Claro têm tudo para se espalhar entre as demais operadores de telefonia celular. Nos próximos meses, a Vivo também pretende lançar um serviço que permitirá aos assinantes divulgar seus próprios vídeos pelo celular. A idéia é que os "campeões de audiência" recebam uma premiação. O formato, diz Alexandre Fernandes, diretor de produtos e serviços da operadora, ainda será definido. A previsão é que o serviço esteja disponível no terceiro trimestre.
Cada qual à sua maneira, as operadoras estudam formas de transformar em negócios o interesse que seus clientes dedicam a serviços como o YouTube, a rede social MySpace e o site de compartilhamento de fotos Flickr. O objetivo claro é aumentar as receitas com o tráfego de dados - texto, imagens e vídeos -, reduzindo a dependência do lucro baseado nos tradicionais serviços de voz.
Por enquanto, tudo está na fase de teste. Cautelosa, a Claro não vai pagar sozinha a conta de sua primeira investida na oferta de vídeos via celular. Quem quiser assistir aos filmes disponíveis no Video Maker terá que baixá-los em seu telefone e pagará R$ 1,10 por arquivo. "Faremos uma experiência, com o objetivo de criar uma rede de colaboração no celular", diz Marco Quatorze, diretor de serviços de valor agregado e roaming da Claro. "Queremos saber se o YouTube faz sucesso porque é interessante ou porque não tem custo."
Atualmente a Claro conta com 25 milhões de usuários no Brasil, informa Quatorze. Dessa base, 40% teria o potencial para acessar o serviço de vídeo. Embora pareça irrisório pagar R$ 0,10 ao autor para cada filme baixado, o executivo faz as contas para lembrar do efeito multiplicador do meio digital. "Vídeos com boa audiência no YouTube são assistidos cerca de 1 milhão de vezes", diz Quatorze. "No Video Maker, isso significaria R$ 100 mil."
A idéia de gerar audiência com conteúdo criado pelo próprio usuário não é um fenômeno recente na internet. Há alguns anos portais de notícias em todo o mundo abriram espaço para a colaboração de seus leitores. No Brasil, sites como o iG e o G1, por exemplo, oferecem canais com conteúdo produzido exclusivamente por internautas. A grande maioria dessas iniciativas, porém, não prevê qualquer tipo de pagamento ao colaborador. Fora do Brasil, já há propostas que desafiam esse modelo. Um exemplo é o sul-coreano "Oh My News", um dos jornais on-line mais reconhecidos do chamado "jornalismo cidadão". Ali, o colaborador cadastrado recebe US$ 1 por notícia enviada.
Para as operadoras de telefonia que atuam no Brasil, a experiência de oferecer vídeos criados por usuários tem um caráter estratégico. As iniciativas indicam que, apesar da falta entendimento entre as agências que controlam a radiodifusão e as telecomunicações sobre a transmissão de vídeo por outros meios que não a TV, milhares de filmes caseiros - produzidos a custo zero e isentos de cobrança de direito autoral - já estão se espalhando pelo celular. A Claro, que no último mês colocou uma versão beta do Video Maker no ar, já recebeu 2 mil filmes. O mais visto é o "Kaisha com K", de Zaiden, que usou seu próprio celular para fazer o vídeo. "As coisas estão melhorando", diz ele. "Acabei de ganhar uma filmadora da minha tia."
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